27/04/2021 às 16h08min - Atualizada em 28/04/2021 às 11h20min
“Lives” for a new life
Nilson dos Santos Morais (*)
SALA DA NOTÍCIA NQM
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A pandemia da Covid-19 mudou tragicamente o modo com que as pessoas se relacionam com a arte e a cultura. O que antes era algo saudável, como encontrar os amigos e depois ir para um show ou uma partida de futebol, passou a ser um crime tipificado em lei e considerado uma ação não virtuosa.
A palavra de ordem “fique em casa”, além de salvar muitas vidas, tem contribuído para a formação de um novo público em música popular e internacional. Prova disso foram as 16 lives de artistas da música com o maior número de visualizações. Somando todos elas, o número chega 23,67 milhões de visualizações, segundo levantamento do jornal Correio Brasiliense publicado na editoria Diversão e Arte em junho de 2020.
O que tem levado multidões à busca de lives? A primeira hipótese é que os shows são produzidos e transmitidos diretamente da casa do artista, criando um fetiche em saber como os artistas vivem no seu momento mais íntimo, pois nesse momento o controle da produção e dos agenciadores não é tão rigoroso, pois a casa ainda é o lugar inviolável.
A segunda hipótese está ligada à ideia de solidão, pois tanto os artistas como uma parcela da população brasileira têm buscado seguir as orientações das autoridades de saúde e assegurando o distanciamento social. Essa nova forma de viver o social, que restringe do ponto de vista moral e legal as aglomerações de pessoas em espaço públicos e privados de grande circulação, abriu espaço para esse sentimento.
A ideia de solidão numa pandemia significa: “sujeito retirado do mundo ou que, mesmo estando rodeado por outras pessoas, a solidão permanece angustiando o sujeito, pois o sujeito está afastado e desencantado com o mundo no estado de tristeza e solidão”.
Essa ideia de solidão também movimentou grandes eventos, como o show da cantora Billie Eelish que teve ingresso no valor de R$ 168,00 para um espetáculo com projeções em 3D e reuniu cerca de 756 mil pessoas. O mercado de lives pagas também movimentou os artistas brasileiros, como o caso de Seu Jorge e Adriana Calcanhoto, os dois artistas cobravam em média 35 reais, equivalente a 10% da proposta do auxilio emergência para famílias desempregadas, por um show com no máximo 12 músicas.
Após um ano de pandemia, as transmissões ao vivo continuam. Não com todo o poder inicial de 2020, mas para alguns artistas, como a cantora Teresa Cristina, consolidaram sua atuação no cenário artístico brasileiro atual. Segundo a revista Vogue Brasil, a sambista virou a musa da quarentena ao fazer lives divertidas e emocionantes.
O lado positivo das lives, que ajuda a conter o contágio do coronavírus, é que também ajudam financeiramente os artistas que estão sem trabalhar de maneira presencial há mais de um ano e, ainda, contribuem como ação social. Portanto, as lives contribuíram para salvar vidas e sensibilizar sujeitos para o novo momento do mundo. (*) Nilson dos Santos Morais é Mestre em Educação Profissional e Tecnológica, professor do curso de Filosofia da área de Humanidades do Centro Universitário Internacional UNINTER