Em inglês, o termo usado é self storage ou mini-storage. O serviço: armazenar pertences de pessoas em depósitos que se alugam e aos quais se pode acessar a qualquer momento com suas próprias chaves.
"Não se trata de centros comerciais, de hotéis, de moda, à primeira vista não é um dos produtos mais sexys", disse James Gibson, um dos fundadores de uma das maiores empresas do setor, em entrevista ao jornal The Guardian.
Ainda que não seja sexy, a indústria de armazenamento superou sucessivas recessões. Marcas como Safestore, Big Yellow e Access cobriram o território britânico de depósitos coloridos nos quais as pessoas guardam todos os "trecos" que não precisam ter à mão, mas que também não querem se desfazer. No Brasil, o setor ganhou apoio da Goldman Sachs, que investiu R$ 600 milhões em uma empresa de self-storage em São Paulo. Na Europa, o mercado de self-storage já movimenta US$ 800 milhões (R$ 3,03 bilhões) anuais.
A indústria é resultado de uma grande mudança sociológica: Danny Dorling, professor da Universidade de Oxford, na Inglaterra, afirma que a geração atual possui seis vezes mais coisas do que a passada. Roupas, móveis, aparatos tecnológicos e outros objetos que foram sendo colocados nas pequenas casas europeias.
Se a isso se adiciona o instinto próprio que a geração atual desenvolveu à medida que envelhece de monopolizar bens, surgem as condições perfeitas para que haja um boom do armazenamento.
Como em tudo, cada oportunidade que se apresenta necessita de gente que se aproveite: alguns afortunados foram capazes de ver o potencial de vender espaços vazios e hoje são bilionários do setor. O primeiro deles foi o britânico Rodger Dudding, conhecido entre seus clientes como Mr. Lock Up ("Senhor Guarda Chaves", em tradução livre).
Ele é o proprietário da maior parte dos depósitos existentes hoje na Europa: 12 mil. Dudding reconhece que o negócio pode ter matizes duvidosas, já que viu pessoas guardarem de tudo nos seus galpões -- de casais que precisam de um lugar para encontros amorosos durante à tarde até um cadáver esquartejado. O empresário estima que seu portfólio está valorizado em mais de US$ 160 milhões (R$ 606 milhões), mas o processo de se tornar o maior proprietário privado de garagens de armazenamento não foi fácil.
Quando ele começou, dirigia todas as manhãs de domingo para descobrir as garagens escondidas atrás das casas. Não havia espaços livres onde se pudesse guardar todas as coisas que poderiam ser trancadas pelos seus donos. Assim, Dudding esperava que alguém se dispusesse a usar seus pequenos espaços e perguntava, educadamente, quem era o proprietário deles.
À medida em que construía seu império, admite que não chegou a antecipar o uso que faria deles. O empresário esperava que as pessoas usassem as garagens para guardar seus carros durante à noite. Mas hoje em dia, 80% desses espaços são utilizados para armazenar objetos domésticos.
Se Dudding demonstrou que o simples ato de guardar os pertences poderia produzir uma fortuna, foi Doug Hampson que criou a indústria moderna de armazenamento, com instalações de corredores brilhantes e limpos e filas intermináveis de portas. Dentro do setor, ele é conhecido como o "pai do armazenamento".
Hampson seguiu a antiga tradição de importar uma ideia de negócios exitosa nos Estados Unidos para a Europa. Enquanto os empreendedores atuais buscam inspiração no fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, a estrela que guiava Hampson era uma instalação de armazenamento em Los Angeles, nos EUA, por onde passou em 1977.
A ideia de que as pessoas guardem seus pertences em outro lugar diferente de suas casas havia começado nos EUA no início dos anos 1960, mas sem a escala industrial de hoje. "Era uma coisa básica, ninguém vivia neles, não havia nem tubulação e não era necessário muito para manter os clientes satisfeitos", disse ao Boston Globe.
Quando regressou dos Estados Unidos, em 1979, ele e sua esposa fundaram o Depósito de Armazenamento Abbey, a primeira cadeia de armazenamento britânica. Os ingredientes eram básicos: fábricas que estavam sem funcionamento e depósitos vazios. Com frequência se tratava de locais que estavam obsoletos para o uso no ato da compra.
Dezenas de empresas seguiram seus passos: Andrew Jacobs, fundador do Lok'nStore, indica que quando viu pela primeira vez a potência do armazenamento, "sentiu como se tivesse entrado na cozinha e visto sobre a mesa uma mala com notas de dólares que ninguém tinha ousado pegar". Foi nessa época, por volta do final dos anos 1990, que a corrente de negócios mundial se viu envolvida no setor de armazenamento.
Os fundadores de Big Yellow, Nicholas Vetch, Philip Burks e James Gibson, já tinham feito fortuna com a indústria de propriedades comerciais. Esse antecedente significou que foram uma das primeiras empresas a receber o importante apoio financeiro da City, como é conhecida a região do mercado financeiro de Londres. Hoje, a Big Yellow é avaliada em mais de US$ 2 milhões (R$ 7,5 milhões).
Uma ideia que foi considerada excêntrica e que saiu das sombras para enriquecer alguns visionários. Os proprietários das principais empresas geralmente concordam que ficou mais difícil e custoso encontrar prédios e espaços vazios e que, da mesma forma, a taxa rápida de crescimento do início freou seu ritmo. Mas há uma lição clara da história do armazenamento: se alguém quer ser milionário, é melhor ir além do que parece ser sexy.