03/03/2023 às 14h46min - Atualizada em 04/03/2023 às 00h01min

Educação básica conta com 714 mil alunos a mais nas redes pública e privada de ensino em 2022

Aumento no número de estudantes é um bom sinal após dois anos de incertezas causadas pela pandemia

SALA DA NOTÍCIA Katia Carmo
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Os dados da primeira etapa do Censo Escolar da Educação Básica 2022, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no início de fevereiro, revelam um aumento no número de matrículas nas redes pública e privada de ensino. Segundo o levantamento, em 2022 foram contabilizadas 47,4 milhões de matrículas nas 178,3 mil escolas de educação básica do País, cerca de 714 mil a mais em comparação a 2021, o que corresponde a um aumento de 1,5% no número de estudantes.

Em um recorte considerando apenas o ensino médio, os números também são positivos: foram quase 7,9 milhões de matrículas em 2022, ou seja, um crescimento de 1,2% em relação ao ano anterior. Deste total, por volta de 971,5 mil alunos estudam em escolas particulares, o que representa 12,3% do total;  e 6,9 milhões dos estudantes estão na rede pública (estadual e federal), totalizando 87,7% das matrículas.

De acordo com a Admª. Claudia Maria Costin, conselheira do Conselho Regional de Administração de São Paulo - CRA-SP e ex-diretora global de educação do Banco Mundial, no estado de São Paulo, especificamente, tanto na rede pública quanto na particular, há um número bastante grande de estudantes e, a cada ano, há mais alunos entrando no ensino médio. 

O crescimento de matrículas no período de 2021 e 2022 entre os estudantes de 15 a 17 anos, segundo a administradora, ocorreu por dois motivos: um deles é porque ainda havia alunos dessa etapa educacional fora da escola antes desse período; e o outro é que mais jovens passaram a querer estudar. 

“É importante lembrar que temos ainda cerca de um milhão de crianças e jovens em idade de escolaridade obrigatória fora das escolas. É preciso fazer a busca ativa desses jovens que eventualmente abandonaram o ensino formal. Infelizmente, com a pandemia houve grandes perdas de aprendizagem. O Brasil foi um dos casos em que as escolas ficaram fechadas por mais tempo: foram praticamente dois anos letivos inteiros com unidades fechadas ou parcialmente fechadas com rodízio de alunos, com os pais decidindo se se sentiam seguros ou não para mandar seus filhos. Para recuperar essas perdas, o tempo normal de escola, que é de quatro a cinco horas, é insuficiente”, comenta Claudia.

Ensino médio integral

Apesar dos contratempos gerados pela pandemia, a administradora avalia positivamente o aumento de alunos matriculados em tempo integral no ensino médio. Em 2020, esse modelo de ensino representava 12,6% (160.719) das matrículas e, em 2022, esse número subiu para 24,9% (337.723).

Para Claudia, o ensino médio integral conta com uma proposta interessante, pois não trata apenas de dar mais aulas, mas sim de ter atividades em laboratórios, clubes de ciência e de artes, por exemplo. “Se olharmos os 30 primeiros sistemas educacionais do mundo, no ranking do PISA (Programme for International Student Assessment - em português Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que é um teste internacional desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que permite comparar sistemas educacionais, nota-se que nenhum deles tem apenas quatro ou cinco horas de aula, mas sim um turno único de sete a nove horas de aula. Com o avanço em direção ao ensino integral, para além de vivências interessantes que os alunos podem ter, há a chance de reposição de aprendizagem e, também, de melhor preparação para o mercado de trabalho, que vai demandar competências mais sofisticadas do que aquelas que as nossas escolas costumam oferecer”, explica a conselheira. 

Formação de gestores e docentes

Outro dado relevante trazido pelo Censo diz respeito aos diretores e professores da educação básica no Brasil. Em 2022, foram contabilizados 2,3 milhões de docentes e 162.847 diretores, atuando nas 178,3 mil escolas do País. Contudo, somente 19,3% dos gestores possuem curso de formação continuada, com o mínimo de 80 horas, em gestão escolar. 

Para Claudia, a gestão escolar é algo bastante complexo e muitos diretores ainda não estão aptos para gerir essas questões, ainda mais em uma organização multifacetada como a escola. “O diretor escolar tem que ser um líder de aprendizagem. É importante que as secretarias estaduais e municipais de educação e o próprio MEC se conscientizem da importância de fomentar um aprendizado ou um desenvolvimento profissional de diretores e coordenadores pedagógicos, que contemple esses temas de liderança, gestão da aprendizagem, logística e relacionamento com a comunidade”, sugere Claudia.

Entre os fatores que justificam tal problema, segundo a conselheira, está o modo como são realizadas as nomeações dos diretores escolares. Há estados em que a nomeação é estritamente política e, em outros, é feito um concurso público, a partir de uma prova escrita, para um cargo que demanda liderança. “Isso tampouco funciona. É o caso, por exemplo, do estado de São Paulo. Nós temos que mudar a forma de seleção e investir de verdade no desenvolvimento profissional dos diretores de escola”, afirma a conselheira. 

Políticas públicas em prol da educação

Para Cláudia, olhar para a política educacional a partir de dados concretos é muito importante, pois a educação, assim como outras áreas de atuação humana, não comporta o negacionismo científico, isto é, atuações sem base em dados ou mesmo ações a partir de opiniões e estimativas distantes da realidade. “É muito positivo que os dados do censo educacional tenham sido divulgados logo no início do novo governo. Ainda não houve tempo de se apropriar de tudo, mas que se mantenha a educação como política de estado, divulgando os dados que foram encontrados e aperfeiçoando cada vez mais a forma de coletá-los fazendo, assim, uma política educacional com base em dados concretos”, acrescenta a administradora. 

Outro ponto que considerado importante por Claudia é olhar para além do ensino médio, afinal, nos últimos 10 anos, a atenção esteve muito voltada à primeira infância, no ensino fundamental I, que é a etapa de alfabetização. “Há um grande esquecimento dos anos finais do ensino fundamental II. É importante observar, por exemplo, com base em dados, que enquanto o 5° ano vem apresentando melhoras sistemáticas na avaliação que é feita a cada dois anos, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), que mede a qualidade da educação, mostram que do 6° ano em diante parece que não prestamos tanta atenção. Daí a importância de trabalhar os dados do censo do 6° ao 9° ano”, alerta.

A conselheira do CRA-SP acredita que essa queda seja resultado do fato de que, em 1971, houve o corte de um ano, que correspondia à antiga 5ª série. Com isso, aos 11 anos, as crianças já entravam para uma lógica com professores especialistas em cada disciplina, em uma idade em que elas, talvez, ainda precisassem do antigo professor primário ou de um docente polivalente, que entendesse mais sobre a forma de aprendizagem delas do que uma área específica. “As crianças se mostram claramente despreparadas no 6° ano para isso. Acho importante que os governos federal, estadual e municipal prestem muita atenção no fundamental II que é a grande área esquecida na educação brasileira”, conclui Claudia.


 
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