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08/03/2023 às 17h37min - Atualizada em 09/03/2023 às 00h03min

Mulheres no volante – de ônibus! -, sucesso constante!

A presença ainda é tímida, mas cada vez elas estão assumindo mais postos no transporte público coletivo da Grande Goiânia. Por onde passam, recebem elogios, palmas e muito respeito

SALA DA NOTÍCIA Kasane Comunicação Corporativa
Arquivo próprio

Todo mundo já sabe que, cada vez mais, as mulheres têm conquistado espaço em áreas e profissões tidas como totalmente masculinas. Mas quando elas passam ou param no ponto de ônibus para embarque de passageiros, as pessoas ainda se espantam e distribuem elogios ao vê-las na direção do volante de um ônibus do transporte público coletivo da Grande Goiânia.  

Elas ainda são minoria diante do total de motoristas homens - hoje a Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC) contabiliza 63 mulheres como motoristas em um universo de 2.503 profissionais (2.440 são do sexo masculino) -, mas já vêm quebrando preconceitos e demonstrando que a mulher tem a liberdade e capacidade de trabalhar em qualquer profissão, seja operacional e gestão. 

“É a realização de um grande sonho. Nem consigo definir essa sensação”, comemora Leidivânia Ribeiro Brito, 42, que se tornou motorista da RMTC há sete meses, pela empresa HP Transportes. Separada e mãe de duas garotas – 7 e 17 anos -, ela cresceu vendo o pai dirigir veículos pesados na fazenda e impedida de exercer a profissão pelo marido. Desde os 16 anos, quando se mudou para Goiânia, via o trânsito de ônibus do transporte público coletivo e o desejo de pilotar um só aumentava. Trabalhou em outras áreas e teve que deixar o emprego por problemas de saúde com a filha. Certo dia, em uma conversa com Deus, pediu a Ele para sair daquela situação e superar as dificuldades. Foi aí que decidiu reunir suas forças e realizar o seu sonho. Foi direto na concessionária e, sem lembrar que já possuía a carteira de habilitação ‘D/E’, para veículos pesados, preencheu a ficha para motorista e fez o teste. No dia seguinte, estava contratada.  

“Nem acreditei quando me ligaram. Nos primeiros dias, recebi muito apoio e força tanto dos passageiros quanto dos motoristas que paravam do meu lado. Além de acenos, ganhei muito ‘Parabéns, linda! Você consegue!’, ‘Aí, a mulherada agora tá de parabéns como motorista, estão conquistando seu espaço!’ e por vai e, inclusive, respeito por parte de todos. Todos os dias são de muito um orgulho para mim”, conta. “Quando chego no ponto final, fiz vários amigos que já brincam e fazem zoeira quando desço do carro, aplaudem e me incentivam a continuar”, conta, aos risos. 

O apoio das filhas veio junto com a realização do sonho. “Elas vibraram comigo pois sempre souberam que eu queria ser, um dia, motorista de ônibus ou de caminhão. Tive e tenho muito suporte por parte delas, que sabem da minha alegria em trabalhar com o que sempre tive vontade. Realização define tudo”, afirma, ao suspirar de satisfação. 

Mesmo com os uniformes tradicionais para os profissionais que comandam os ônibus na RMTC, o toque feminino continua presente. O batom está sempre no bolso e, em uma ou outra parada, o retoque da cor é garantido.  “As mulheres estão conquistando um espaço enorme em todas as áreas, estão perdendo o medo ao saber que outras são capazes e, então, elas também. Sinto muito orgulho em representar a classe das mulheres no operacional do transporte público, é uma conquista muito grande”, ressalta, ao mandar um recado para inspirar outras mulheres: “Nunca desista e não tenha medo porque ele atrapalha a conquistar tudo o que você busca. Tem que ir mesmo com coragem, com força, que tudo dá certo. Não deixe nada nem ninguém, nem uma palavra negativa jogar você para trás. 

Há um ano e meio como como motorista de ônibus da HP Transportes, Rozivan Sousa de Oliveira, 41 anos, concilia a profissão com a maternidade: é mãe de 4 meninas e 1 menino. “Trabalhei muitos anos na função de diarista e sempre tive vontade de ter a carteira registrada, porém nenhuma atividade que eu sabia fazer me agradava. Meu filho, que sempre gostou muito de dirigir, ouvia eu comentar que pensava em mudar de profissão, me estimulou a tirar a categoria 'D' e fazer o curso de transporte de passageiros para, assim, buscar oportunidade na área do transporte. Fiz testes em outros lugares, porém foi na HP que tive a satisfação de ingressar nessa profissão que tenho orgulho de exercer”, ressalta. 

Hoje, Rozivan se sente feliz e realizada como profissional no segmento de transportes. “Encontrei apoio dos meus filhos, que ficaram muito felizes com minha conquista profissional. Hoje percebo que tenho uma boa aceitação do público que atendo, principalmente mulheres que fazem elogios e se sentem representadas vendo uma mulher exercendo uma profissão antes exercida por homens”, diz, ao frisar que o desafio continua sendo sempre prestar o melhor serviço possível para todos. “Me emociona sempre quando vejo a gratidão de pessoas com dificuldades de mobilidade ao agradecer o serviço prestado. Isso me marca muito nessa profissão”, conta. 

Para ela, lugar de mulher é onde ela deseja estar e se sente feliz. “Minha mensagem a todas as mulheres é para que nunca desistam dos seus sonhos. Somos fortes e capazes de chegar aonde desejamos”.  

Biarticulado 

 Agora imagem a recepção e surpresa dos passageiros quando a Andréia Felix, de 40 anos, chega para embarque e desembarque de passageiros do Corredor Anhanguera? Ela dirige, desde dezembro de 2010, um ônibus biarticulado da Metrobus. A carreira na direção de grandes veículos iniciou em 2007, quando trabalhou na administração municipal como motorista de caminhões prensa, aqueles que recolhem lixo. Ambos os cargos, passados e atuais, são de concurso público.  

“No início tive medo, nunca tinha trabalhado com transporte de passageiros. Ingressei em período chuvoso, a frota já era antiga, pavimento ruim, manutenção ruim, escorregava muito, era um desafio todos os dias. Mas nada como um dia após o outro né?! Graças a Deus fui ganhando experiência, confiança e tudo foi ficando mais natural”, relembra. 

Andréia também recorda que, no início, havia muito preconceito, inclusive das próprias mulheres usuárias do serviço, com comentários assim: “se fosse um homem já tinha chegado”, “se fosse um homem, tinha passado antes do sinal fechar”, e por aí vai.  “Mas havia também bons comentários, e são eles que predominam até hoje. As crianças e os idosos são os que mais conversam e fazem elogios, gostam de andar comigo. E tem também passageiros que fazem questão de ir até a janela e falar comigo, agradecer e elogiar a maneira de dirigir”, relata. 

Ela confessa que sempre gostou muito de dirigir e aprendeu cedo, ao observar a mãe. “Trabalhar com pessoas é um desafio, tem dias bons e tem aquele que acontece coisas ruins, desanimadoras. Temos que saber levar, porque senão a gente não sai nem de casa.  É uma responsabilidade muito grande, são muitas vidas que, na sua maioria, nem percebem quem está ao volante. É uma função muita das vezes invisível. Mas é assim que a vida segue, fazendo o que tem que ser feito, com responsabilidade, atenção e respeito, independente da função ou de reconhecimento”, observa.  

Os desafios de hoje, aponta Andréia, são os mesmos do primeiro dia, com a diferença da experiência e do aprendizado, que também é diário. “Todo dia quero ser um pouco melhor, mesmo com todas as adversidades da vida. Continuar sendo a pessoa que enxerga as coisas simples, que admira o pôr do sol todos os dias e que tenta ajudar ao próximo. Somos o que deixamos nas pessoas, as boas lembranças, as boas ações, o cuidado”, ensina. 

Longa trajetória 

Há quase 10 anos como motorista do transporte coletivo na Rápido Araguaia, Claudia Pereira de Souza, 46 anos, que é mãe de três filhos e avó de dois netos, se sente realizada com a profissão. “Amo ser motorista”, conta, ao revelar que se inspirou no pai, que é motorista e já trabalhou na mesma concessionária da RMTC nos anos 90.  

“Quando resolvi tentar essa profissão, eu trabalhava como auxiliar de cozinha. Na época, meu ex-marido também trabalhava na empresa e tive incentivo e apoio para arriscar. Fiquei com muito medo, mas gosto de desafios. E deu tudo certo!”, conta Claudia. “Lembro que, na primeira viagem, passei por um mix de emoção, mistura de medo com felicidade. E o mais emocionante é que os passageiros ficaram na maior empolgação e comemoraram o fato de ter uma mulher como motorista”, lembra. 

As mulheres, frisa ela, possuem um grande potencial pois tudo é feito “melhor com qualidade e amor”, define.” Para inspirar outras a realizarem seus sonhos, Cláudia deixa o seguinte conselho: “Nossa capacidade é incomparável. E muitas vezes deixamos de inovar por medo e isso não pode acontecer. Nós podemos, sim, e a cada dia superamos as expectativas em várias áreas. Sou muito orgulhosa em ser mulher.”  

Outra profissional de longa data é a motorista Juliana Rosa, 43 anos, que está nesta função há 10 anos.  “Sempre vi o ônibus do meu bairro passar eu comentava que iria, um dia, dirigir um desses”, lembra. O primeiro dia de trabalho foi considerado tenso por ela pois, na época, os passageiros não estavam acostumados com mulher ao volante. “Mas eu consegui superar meus medos e mostrar que eu tinha capacidade para a profissão. Tanto é que selecionam 80 motoristas para serem demitidos e eu não estava entre eles. . Por mais que seja difícil, para Deus nada é impossível. Temos que acreditar”, reflete. 


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