A corrida dos brasileiros a clínicas para “secar” vasinhos nas pernas, tecnicamente chamada de escleroterapia, ganhou contornos de febre. Nos últimos anos, perfis nas redes sociais e propagandas de pacotes estéticos transformaram o tratamento, destinado a microvasos e telangiectasias, numa promessa de pernas lisas em poucas sessões. Mas por trás da popularidade há um procedimento médico que exige preparo, diagnóstico correto e cuidados para evitar frustrações.
Como funciona a escleroterapia
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Quero fazer parte!A escleroterapia consiste em injetar uma substância esclerosante no interior dos microvasos que ficam aparentes na pele. A substância provoca inflamação controlada no revestimento do vaso, fazendoo contrair e fechar; o sangue é redirecionado para veias saudáveis e o corpo absorve o vaso tratado. Essa técnica faz parte do tratamento das varizes e não é “apenas estética”, a escleroterapia pode ser feita com glicose líquida ou espuma, com laser transdérmico ou radiofrequência, e a escolha depende da anatomia e do calibre das veias.
As injeções são feitas no consultório, sem necessidade de cirurgia, e quando há ligação dos “vasinhos” com veias varicosas, a cirurgia pode ser indicada, as varizes maiores devem ser tratadas primeiro.
Uma das dúvidas mais frequentes é se o tratamento dói. Segundo relatos, a sensação é semelhante a uma picada de agulha de insulina, o incômodo é leve e passageiro; usamos agulhas ultrafinas, concentrações seguras de glicose e, para quem é mais sensível, dá para aplicar anestésico tópico ou fazer resfriamento local. Após a sessão, pode haver leve ardência, peso nas pernas ou pequenos roxos, mas a maioria dos pacientes retorna à rotina no mesmo dia.
Técnicas e tipos de produto
A escleroterapia clássica utiliza glicose hipertônica, considerada por muitos o padrão ouro por ser biocompatível e apresentar baixo risco de alergia. A substância, geralmente entre 50% a 75% de concentração, provoca a contração do vaso sem risco de choque anafilático. Existem também variações do procedimento, como a crioescleroterapia, em que a glicose é resfriada para reduzir a dor e potencializar o efeito, a aplicação em forma de espuma, indicada para varizes maiores, e o laser transdérmico, que aquece a hemoglobina para selar o vaso. A escolha do método depende do calibre e da localização dos vasos. A técnica é indicada apenas para microvasos, e em muitos casos já na primeira sessão pode-se observar clareamento de até 60% dos vasinhos. No entanto, sessões adicionais costumam ser necessárias, com intervalo recomendado de 15 dias entre elas.
Durabilidade e cuidados pós procedimento
Os resultados da escleroterapia não são imediatos. Após a aplicação, os microvasos clareiam gradualmente, podendo desaparecer ao longo de semanas. O número de sessões varia de acordo com o calibre e a quantidade de veias tratadas: quanto mais grossas e visíveis, maior a necessidade de sessões. Entre uma aplicação e outra, é essencial evitar a exposição solar por pelo menos duas semanas, usar meias de compressão por 2 a 3 semanas e não praticar exercícios extenuantes.
É comum que o local tratado fique avermelhado, inchado ou com hematomas temporários. Por isso, recomenda-se evitar atividades físicas por cerca de três dias e exposição ao sol por até dez dias, o que faz do inverno a estação preferida para o tratamento. Em alguns casos, também são indicados cremes ou cápsulas com substâncias naturais para fortalecer os capilares e clareadores tópicos para prevenir manchas.
As sessões costumam durar entre 30 e 60 minutos, utilizando glicose a 50% ou 75%, e, dependendo da resposta individual, é possível tratar mais de uma área no mesmo dia. O número de sessões pode variar entre três e dez, sendo necessário evitar sol e atividades de alto impacto por até cinco dias após cada aplicação. A técnica, no entanto, não é recomendada para pessoas com diabetes descompensada, feridas na pele ou dificuldades de cicatrização.
Popularização e mitos
As telangiectasias, popularmente conhecidas como vasinhos, afetam cerca de 70% das mulheres e têm origem multifatorial, incluindo predisposição genética, alterações hormonais como gravidez e uso de anticoncepcionais, além de sedentarismo e obesidade. O incômodo estético é um dos principais motivos que levam à busca por tratamento, já que muitas mulheres evitam usar saias ou shorts por vergonha da aparência das pernas.
O aumento da divulgação nas redes sociais, especialmente com vídeos de “antes e depois”, contribuiu para a popularização dos procedimentos de escleroterapia, fenômeno conhecido como “febre da secagem”. No entanto, mesmo com técnicas praticamente indolores, especialmente com o uso de termoanestesia, é fundamental que o tratamento seja acompanhado por avaliação clínica adequada, pois os microvasos visíveis na pele podem ser consequência de veias maiores comprometidas, que exigem investigação e cuidados médicos específicos.
A biomédica Roberta Bazzi, reconhecida como uma das referências em escleroterapia no país, também defende a abordagem cuidadosa. Em sua clínica em São Paulo, a especialista combina glicose resfriada com técnicas de laser de baixa potência e reforça que cada caso é avaliado individualmente; sua reputação é fruto de anos de prática exclusiva em estética vascular. Embora as entrevistas de Roberta não estejam disponíveis em repositórios públicos, ela é frequentemente citada por pacientes nas redes pelo atendimento personalizado e resultados naturais.
Quanto custa e por que varia tanto?
Um dos motivos da popularização é que a escleroterapia é relativamente acessível. Reportagem da clínica Fluxo de Cirurgia Vascular mostra que, em setembro de 2024, o preço médio por sessão variava entre R$ 285 e R$400. O levantamento ressalta que valores podem ser maiores quando se incorporam tecnologias como laser ou espuma. O custo depende de vários fatores:
● Qualificação do profissional – O preço reflete a formação e atualização. Para realizar o procedimento de forma segura, o profissional deve ser médico com especialização em Angiologia ou Cirurgia Vascular, após seis anos de faculdade e pelo menos quatro de residência; cursos, congressos e adoção de novas técnicas compõem os honorários.
● Estrutura do local – Clínicas com alvará da vigilância sanitária, equipamentos como ultrassom doppler e equipe de apoio cobram mais, pois investem em segurança e conforto.
● Região geográfica – Diferenças no custo de vida entre capitais e interior, além de impostos, influenciam o preço.
O artigo da Fluxo lembra que existem profissionais que cobram por pacotes ou por tempo de atendimento. Há também planos de tratamento personalizados, em que o cirurgião avalia o paciente com exames, como ultrassom, e determina o custo total. Além disso, deve-se evitar pacotes com prazos fixos, pois o número de sessões necessárias varia conforme a resposta individual de cada paciente e a presença de doenças venosas associadas. O acompanhamento adequado e a personalização do tratamento são essenciais para garantir bons resultados e evitar complicações.
A segurança em primeiro lugar
Como qualquer procedimento médico, a escleroterapia apresenta possíveis efeitos colaterais e contraindicações. Entre as reações mais comuns estão sensação de queimação, pequenas bolhas, manchas escurecidas, hematomas e, em casos raros, trombose venosa profunda. Por isso, é fundamental informar previamente qualquer histórico de alergias, trombofilia, uso de anticoncepcionais ou outras condições clínicas relevantes.
O procedimento deve ser evitado por gestantes, lactantes, pessoas em tratamento de câncer, portadores de infecções locais, diabéticos descompensados, indivíduos com problemas circulatórios, feridas na região ou dificuldade de cicatrização.
A recuperação exige alguns cuidados específicos: uso de meias compressivas, evitar exposição ao sol e ao calor, não depilar a área tratada por pelo menos 24 horas, manter boa hidratação e realizar atividades físicas de baixo impacto. Mesmo após a eliminação dos vasinhos, novos podem surgir com o tempo, já que a predisposição permanece. Por isso, medidas preventivas como controle do peso, prática regular de exercícios e evitar longos períodos em pé ou sentado são essenciais para manter os resultados e a saúde vascular.
O recado final dos especialistas
A febre da secagem de vasinhos evidencia o quanto a estética das pernas influencia diretamente na autoestima das mulheres brasileiras. No entanto, esse movimento também levanta um alerta importante: a banalização de um procedimento que, apesar de parecer simples, é médico e exige conhecimento técnico especializado.
A escleroterapia deve ser realizada apenas por profissionais habilitados e devidamente registrados, como angiologistas, cirurgiões vasculares ou biomédicos estetas com formação específica e experiência comprovada na técnica. Segundo a biomédica Roberta Bazzi, especialista em escleroterapia, “a segurança e os resultados duradouros estão diretamente ligados à qualificação do profissional e à individualização do tratamento”. Ela reforça que, embora a dor tenha sido reduzida graças à evolução das técnicas, é no cuidado com o pós-procedimento que se constrói a eficácia do tratamento. “Não adianta buscar resultado imediato. A resposta do corpo leva tempo, e o sucesso depende de disciplina e acompanhamento contínuo”, completa.
Antes de aderir à tendência, é fundamental buscar informações sobre a formação do profissional, realizar uma avaliação médica completa e organizar a rotina para seguir as orientações do pós-procedimento. O investimento na secagem de vasinhos só vale a pena quando está aliado à promoção da saúde vascular e ao bem-estar a longo prazo.
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