12/04/2021 às 13h11min - Atualizada em 12/04/2021 às 12h46min

Quem governa Santa Catarina?

Pressionada internamente para a tomada de decisões, Daniela Reinehr comete erros de principiante na sua segunda vez como Governadora interina. A morosidade na tomada de decisões começa a rachar sua cambaleante base de apoio.

Redes Sociais
A terceira semana do governo de Daniela Reinehr inicia com grandes incêndios, testando a capacidade política e de articulação da governadora interina. No final da tarde do último domingo, um dos componentes da sua base governista na ALESC, Deputado Sargento Lima, expressou via redes sociais um descontentamento com a condução da gestão atual.

O descontentamento do parlamentar não ecoa sozinho nos corredores do poder legislativo. Há uma sensação de que a Governadora está cometendo os mesmos erros da sua interinidade passada, onde uma de suas marcas registradas foi a demora em tomar decisões importantes para o Estado. Com a iminente publicação da data do julgamento definitivo do impeachment de seu antecessor, o tempo é um bem precioso demais para ser desperdiçado por quem tem pretensões.

Outro fato que criou um tormento à Governadora interina foi a divulgação, na sexta-feira, de um despacho interno do Comandante-Geral da PMSC, Coronel Dionei Tonet, instaurando um inquérito policial militar contra o Tenente-Coronel Daniel Nunes da Silva, comandante do batalhão de Balneário Camboriú. A motivação para o processamento do inquérito foi por ter recebido a visita do Deputado Federal Eduardo Bolsonaro sem respeitar as normas sanitárias de combate ao COVID-19.

O que causa estranheza é que o mesmo Coronel Dionei Tonet participou de evento público no dia 31 de março para recebimento de armas e viaturas. Realizado nas dependências da Assembleia Legislativa do Estado, o evento organizado às pressas para o aproximar da recém empossada governadora, e, apesar da utilização de máscara, também não respeitou os protocolos de segurança e combate ao COVID-19. A intensa aglomeração para as sessões de fotos e discursos talvez não tenha sido notada pelo Coronel. Será que o vírus estava de folga nesse dia?

O Comando-Geral da Polícia Militar é herança da gestão de Carlos Moisés, que manteve a frente da função o Coronel Dionei Tonet mesmo diante do recebimento de diversas denúncias de irregularidade na gestão, incluindo a investigação que tramita, de forma vagarosa, no Ministério Público acerca da utilização da estrutura da corporação para a candidatura de seu irmão na eleição passada. Agora, sob a batuta de Daniela, o posto é alvo de uma intensa cobrança para mudança. Anteriormente, o suposto vazamento de um documento que indicava a exoneração do comandante foi comemorado pela tropa, que nunca viu no Tonet a figura de um líder.

Esse distanciamento do Comando e da tropa é fruto de escolhas desastrosas do Coronel. Trata seus subalternos com punho de ferro, mas se diz perseguido pelos parlamentares quando questionado sobre sua gestão. Exemplo disso é o despacho final do Comandante-Geral no procedimento administrativo que investigou um de seus subordinados por “pedir votos para certo candidato” durante um evento religioso. No caso, o Coronel entendeu que o militar cometeu diversos crimes militares, dando prosseguimento ao inquérito.

Por outro lado, quando denunciado, o Comandante afirmou que a propaganda era, na verdade, apenas uma entrevista, ainda que gravada para a equipe contratada para gerir a campanha de seu irmão. A situação remete ao dito pelo poeta romano Juvenal: “Quem há de vigilar os próprios vigilantes?”

Os primeiros sinais de tempestade no governo interino começam a surgir. A insatisfação dos aliados de Daniela e opositores de Carlos Moisés começam a pipocar internamente, fruto da aparente apatia da gestora nas tomadas de decisões. Para quem quer mostrar uma face diferente daquela apresentada por Moisés, a falta de celeridade na estruturação dos cargos de alto escalão joga contra seu objetivo. É um Governo Daniela, mas com carinha de Governo Moisés.
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