Em 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez o anúncio que marcaria um dos maiores triunfos da história da medicina: a varíola havia sido completamente erradicada do planeta. Essa foi, e permanece sendo, a única doença infecciosa humana eliminada 100% da existência no mundo.
A varíola foi uma das piores doenças que assolou a humanidade. Durante pelo menos 3 mil anos, ela circulou pelo mundo causando devastação incomparável. Estima-se que, somente nos 80 anos anteriores ao programa global de erradicação, a doença foi responsável pela morte de 300 milhões de pessoas — uma cifra que supera amplamente as mortes causadas pela COVID-19.
A doença caracterizava-se por uma taxa de mortalidade de até 30%, especialmente entre gestantes e crianças menores de um ano. Os sintomas eram claros e visíveis: um exantema disseminado pelo corpo que começava como manchas e evoluía para pústulas, frequentemente deixando cicatrizes permanentes ou causando cegueira nos sobreviventes.
A erradicação tornou-se possível graças a vários fatores convergentes. Primeiramente, havia uma vacina altamente eficaz, desenvolvida por Edward Jenner em 1796, que podia ser aplicada em dose única. Em segundo lugar, a varíola apresentava sinais clínicos tão característicos que era facilmente diagnosticável, permitindo isolamento e rastreamento de contatos. Não havia infecções assintomáticas — quem estava infectado apresentava sintomas visíveis.
A OMS formalizou o Programa Global de Erradicação da Varíola em 1967, estabelecendo a meta ambiciosa de erradicar a doença em uma década. O programa envolveu mais de 100 profissionais de nível superior e milhares de profissionais locais de saúde em todo o mundo, investindo cerca de 300 milhões de dólares em uma estratégia combinada de vacinação em massa e vigilância epidemiológica.
No Brasil, a Campanha de Erradicação da Varíola foi lançada em 1966, sob coordenação do médico Cláudio do Amaral Jr. O último caso brasileiro foi registrado em 1971. Globalmente, o último contágio natural ocorreu na Somália em outubro de 1977. Desde então, nenhuma nova infecção natural foi detectada.
Quando a OMS confirmou oficialmente a erradicação em 1980, o mundo havia testemunhado a morte de um inimigo que havia aterrorizando a humanidade por milênios.
Desde então, passaram-se 45 anos. Quarenta e cinco anos de computadores quânticos, inteligência artificial, sequenciamento genético completo, nanotecnologia e investimentos que alcançam bilhões de dólares anuais. Nesse período, decodificamos o genoma humano, enviamos sondas para Marte, desenvolvemos tecnologia de edição de genes com precisão de uma molécula. Mas, curiosamente, nenhuma outra doença humana foi completamente erradicada. Poliomielite? Ainda existe. Malária? Continua matando crianças. Tuberculose? Segue ativa. Dengue? Cada ano piora. Etc. e etc..
Enquanto isso, o que realmente explodiu não foi o número de doenças curadas, mas o número de vacinas, tratamentos, medicações e “soluções inovadoras” lançadas no mercado. Bilhões são gastos em pesquisa e desenvolvimento, mas o resultado tangível é uma população crescente de crônicos — pessoas que não morrem da doença, mas que sobrevivem dela, consumindo medicações indefinidamente.
As doenças modernas — diabetes, hipertensão, depressão, síndrome do pânico — elas são tão lucrativas… Elas exigem monitoramentos, exames, múltiplos médicos e medicamentos… A indústria farmacêutica global movimenta mais de 1,4 trilhão de dólares anuais, e crescimento é garantido como? Você já deve ou deveria saber a resposta. Curar significaria o fim. Erradicar significaria vitória final e ausência de mercado. Mas gerenciar uma doença crônica? Este é um negócio interminável, certo ou errado?
Tem algo interessante acontecendo por aí?
Compartilhe com a gente!
