Em um mundo onde o Natal é frequentemente reduzido ao consumismo e à superficialidade emocional, o filósofo e professor Guilherme Freire propõe um resgate do sentido profundo dessa celebração. Através de uma análise que une a simbologia tradicional e sua própria experiência familiar, Guilherme Freire apresenta o Natal não apenas como uma festa histórica, mas como a manifestação concreta da estrutura da realidade: o sacrifício, a ordem e a vitória da vida.
Para compreender o Natal segundo Guilherme Freire, é necessário mergulhar em dois aspectos fundamentais de seu pensamento: o significado teológico dos símbolos natalinos e a vivência do sacrifício como essência do amor e da família.
Guilherme Freire defende que os símbolos do Natal não são meros enfeites, mas veículos de verdades espirituais profundas. Longe de serem invenções comerciais ou apropriações pagãs vazias, eles carregam uma catequese visual e histórica.
O Presépio, por exemplo, é destacado como o elemento central da celebração. Criado por São Francisco de Assis, sua função vai além da decoração: ele torna tangível o mistério da Encarnação. Ao representar o nascimento de Cristo, o presépio recorda que Deus entrou na história humana de forma humilde e real, conectando o divino ao humano.
A Árvore de Natal é outro símbolo que Guilherme Freire resgata de interpretações equivocadas. Ele explica que sua origem remonta à região da Livônia e às guildas medievais, mas ganha seu sentido pleno com São Bonifácio, que substituiu o culto pagão ao carvalho pelo pinheiro. O formato triangular do pinheiro aponta para o céu, evocando a Santíssima Trindade, enquanto sua natureza perene (sempre verde) simboliza a eternidade e a vida que resiste mesmo no “inverno” do mundo.
Freire também aborda a figura do Papai Noel, reconectando-a com sua raiz histórica em São Nicolau, bispo de Mira. Longe de ser apenas um velhinho simpático, São Nicolau foi um defensor ardente da fé (famoso por sua firmeza no Concílio de Niceia) e da justiça, cujos presentes originais — dotes para salvar moças da prostituição — eram atos de salvação real, não mero consumismo.
Os Sinos e as Luzes completam: os sinos como o anúncio sonoro da alegria da Redenção e as luzes como o reflexo de Cristo, a Luz do Mundo, que dissipa as trevas da ignorância e do pecado.
A compreensão teórica dos símbolos ganha vida na experiência pessoal de Guilherme Freire, especialmente em sua visão sobre a família. Para ele, o Natal é o arquétipo da vocação familiar porque revela que o amor verdadeiro é inseparável do sacrifício.
Em seu testemunho, ele relata como sua conversão intelectual e espiritual o levou a entender que sua missão no mundo se realizaria através da família. Ele traça um paralelo direto entre o nascimento de seus filhos e o nascimento de Cristo. Ao narrar o parto difícil de sua primeira filha, Catarina, ele teve uma epifania natalina: “O Cristo nasce para morrer. Ele nasce na manjedoura… e ele já nasce marcado para a morte. Mas é o nascimento belo porque é o nascimento de vitória da vida”.
Essa percepção de que “a vida vence com esse nascimento”, mesmo estando marcada pela finitude, é a essência do Natal cristão. Ele segue e argumenta que a cultura moderna busca fugir do sacrifício — evitando filhos, buscando validação emocional rápida — mas que “todas as coisas boas do mundo… são fruto do sacrifício”.
A família, portanto, não é um obstáculo à realização pessoal, mas o “que renova todos os dias a minha entrega”. Assim como Cristo se entregou ao nascer pobre para salvar a humanidade, o pai e a mãe se entregam no serviço diário.
Para Guilherme Freire, o Natal é a celebração da ordem do amor. Os símbolos (árvore, presépio, sinos) nos ensinam a verdade doutrinal: que Deus se fez homem para ordenar o cosmos e nos oferecer a eternidade. A vivência familiar nos ensina a verdade prática: que esse amor encarnado exige entrega, serviço e sacrifício.
Celebrar o Natal, nessa perspectiva, é mais do que reunir parentes e trocar presentes; é reafirmar o compromisso com uma vida onde o sacrifício não é evitado, mas abraçado como o único caminho para a verdadeira frutificação e alegria.
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