22/09/2021 às 16h39min - Atualizada em 23/09/2021 às 00h00min

Priscila Prade abre Corpo em Quarentena no dia 4 de outubro com 12 ensaios de nus artísticos

Mostra da fotógrafa e produtora cultural resulta de autorretratos e grupo de estudos de fragmentos filosóficos sobre o erotismo, com base em textos eróticos de seus autores prediletos

SALA DA NOTÍCIA maria fernanda teixeira
Priscila Prade
No início da pandemia, morando sozinha e confinada já há alguns meses, a fotógrafa Priscila Prade leu e releu diversos livros e passou se fotografar como forma de passar o tempo e ocupar a mente. Envolvida fortemente por este processo, teve a inspiração para a exposição e o livro CORPO EM QUARENTENA. A mostra acontece de 4 a 10 de outubro, no Espaço Cultural Brica Braque, com entrada franca. Artesanal e de tiragem limitada, o livro de 90 páginas custa R$ 150,00. As fotos da exposição estarão à venda e o valor de cada obra vai variar conforme seu acabamento.

“Meses sozinha em casa, autoconhecimento, desejo, identidade e muita inquietação.  Corpo em Quarentena surgiu de uma série de autorretratos que produzi durante o inicio do isolamento social (pandemia mundial da Covid-19). A partir dessa experiência, fui impulsionada a criar um grupo de estudos artísticos de fragmentos filosóficos e imagéticos sobre o erotismo.

Propositalmente, o trabalho foi embasado na produção textual de autores renomados, de ambos os gêneros, para nortear o processo criativo do grupo, sob a ótica feminina e masculina. De um lado, Georges Battaile, o pensador do corpo. De outro lado, Hilda Hilst, em cuja obra o sexo surge como algo natural, explícito, sem tabu, como uma parte essencial do ser humano. Ambos os autores são muito presentes na vida de Priscila.

“Battaile indaga o corpo de uma maneira mais direta e, de tal interrogação, propõe um modo de pensar a totalidade (paradoxalmente, afirmada como incompleta) da experiência e do espírito humanos. Hilda é transgressora na medida em que reflete um tempo ainda cheio de conservadorismo, preconceito, misoginia, homofobia, o que a torna ainda mais atual e necessária – é a voz de uma mulher, numa sociedade patriarcal e machista, a nos falar sobre assuntos muitas vezes proibidos. A literatura de Hilda trata desses temas de uma forma muito delicada, procurando a beleza no gozo, no prazer, na satisfação dos nossos impulsos animalescos, na fragilidade dos corpos humanos.”

Hilda é transgressora na medida em que reflete um tempo ainda cheio de conservadorismo, preconceito, misoginia, homofobia, o que a torna ainda mais atual e necessária – é a voz de uma mulher, numa sociedade patriarcal e machista, a nos falar sobre assuntos muitas vezes proibidos.

Depois do estudo, as sessões de fotos

Priscila disparou pelas redes sociais um chamamento para interessados na inscrição em um grupo de estudos sobre autoconhecimento e o isolamento da pandemia. O retorno foi expressivo e imediato. Na manhã seguinte ao post, 96 interessados se apresentaram.

Ela suspendeu as postagens e passou a telefonar a todos. Um a um, ligou para conversar, entender o motivo do interesse, explicar qual seria sua proposta e informar da disponibilidade de apenas 12 vagas. Priscila faria uma seleção de acordo com objetivos em comum e a aceitação de serem fotografados por mim no final do processo.

O grupo de 12 pessoas, selecionadas entre 96 inscritos, ocorreu durante oito meses de forma remota, através de encontros semanais virtuais e como resultado, produzimos em conjunto, 12  ensaios fotográficos, apresentados quase que como ‘versos; estrofes corporais’, ressignificando paixões, feridas e cicatrizes coletivas e individuais.” Os encontros semanais, com duração de 120 minutos, não raro chegavam a ter quatro horas, durante esse tempo liam e debatiam trechos dos livros e ensaios prediletos da fotógrafa.

Os participantes traziam sugestões de textos também. “Do Bataille, lemos, principalmente, a obra O Erotismo e A História do Olho. De Hilda, passamos por praticamente toda sua obra poética, como também pelos clássicos A Obsena Senhora D e O Caderno Rosa de Lory Lamb.

Após o término do estudo, as sessões de fotos aconteceram com base em ideias de cada um dos fotografados. A partir daí, a fotógrafa lançou mão de sua estética para abordar cada temática.

Posaram para Priscila a diretora de arte Patida Mauad, o ator Clovys Torres,  a atriz Érica Montanheiro, a cineasta Andrea Nero, o fotógrafo Ricardo Guzzo, a empresária   Maria  Eugênia, a estudante Vic Marcondes, o técnico de projeção Rafael Drodro, a artista plástica  Tuca Ahlin, a produtora Patrícia Scotolo e a atriz Bia Borin, além da própria Priscila Prade.  

Homens e mulheres de 20 a 62 anos

Priscila conta que os ensaios fotográficos, desenvolvidos e debatidos sempre em grupo, foram realizados em sua totalidade com pessoas de gêneros, idades e contextos diferentes (homens e mulheres de 20 a 62 anos), propondo uma reflexão sobre corpos, pudores, questionamentos e universos pessoais.

“Respeitando as orientações de saúde, as fotos foram agendadas e realizadas no meu  estúdio de forma presencial, apenas com a minha presença e do fotografado, e cumprindo todos os protocolos de segurança, com distanciamento, higienização adequada e uso de álcool gel.”
“Sobre a escolha do tema de cada ensaio e dos autores, temos uma série de estudos ligados ao erotismo colocados em pauta diante da pandemia. Ao longo da história humana, nas mais variadas civilizações, nas diversas expressões culturais e literárias ao longo dos séculos, o sexo, o desejo e o erotismo sempre estiveram presentes. Faz parte de nós, do que somos, vivemos e sonhamos.”

“Neste momento de pandemia, o coletivo, forçadamente em quarentena, voltou-se para si. Mesmo que não quiséssemos, todos fomos obrigados a encarar a nossa singularidade, nos deparando com nossa individualidade, nossa sensualidade, ou nossa solidão em algum momento. A muitos restou apenas a si mesmos nesse período e seus próprios corpos e mentes. O questionamento então é o que fazer com esse corpo que somos?”

Priscila releva que fotografar nu é uma arte delicada. “A partir da estética escolhida, o corpo despido pode assumir diferentes imagens e acepções. Mas em todos os casos a pele crua é nada mais nada menos que a condição natural do ser humano. Ou deveria ser.”

“Nos ensaios explorei de forma muito sensível e artística corpos nus masculinos e femininos. Corpos de todas as idades. Corpos, cheios de marcas e histórias. Corpos naturais. Me propus, por meio deste projeto, sublimar justamente esse sentimento frente ao erótico e ao nu, pois, se o nu artístico sofre alguma repressão social, ela se acentua quando a figura retratada é masculina. A nudez feminina sempre foi bastante explorada, mas o homem nu ainda é impactante para muitos. Por quê?  Corpo Em Quarentena procura trazer à luz o inconsciente coletivo sobre essa diferenciação frente ao nú masculino e feminino, sobre o íntimo, sobre o proibido, e mais, sobre o tabu ou sobre o sagrado.

“Eu, dentro desse registro artístico, apresento minha visão de artista e de mulher, em Corpo Em Quarentena. Em uma abordagem diferente do erotismo,  primeiro fotografei a mim mesma para depois, nos doze ensaios fotográficos posteriores, realizar  exercícios visuais que exploram reflexões sobre o nosso trabalho. Nele, o corpo é a matéria-prima, pronto a ser recriado e exorcizado.”
 
CORPO EM QUARENTENA
Exposição Fotográfica e Lançamento de Livro 
De 4 a 10 de outubro, das 14 às 20 h
No Espaço Cultural Brica Braque – r. Dr. Seabra, 900. V Madalena
Entrada gratuita - Reserva de horário pelo whatsapp 11-9.6660-9120
@espacoculturalbricabraque

 
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