Dia Mundial do Rock: Rebeldia de verdade não se compra em loja de fantasia

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Ontem foi o Dia Mundial do Rock. choveu foto de camiseta preta, pose de rebelde e, claro, aquele festival de frases de efeito sobre “liberdade”, “atitude” e “transgressão”. Tudo muito bonito — e, na maioria das vezes, tão autêntico quanto um reality show.

O rock nasceu da rebeldia, mas não dessa rebeldia de mimadinho de internet que ergue o dedo do meio e que quebra guitarra feito um idiota. A rebeldia do rock era — e deveria ser — um chamado à consciência, uma recusa em aceitar o mundo pronto, um grito contra a mesmice, não uma playlist armada pela patrocinadora para um festival dos reclames do plim plim.

Lá atrás, quando Bob Dylan trocou o violão pela guitarra elétrica, não foi só para fazer barulho: foi para dizer que a poesia podia ser arma (tal qual Raulzito nos trouxe, que a espada era a guitarra na mão). O rock, pós-Dylan, passou a ser trincheira de ideias. As letras viraram crônica social, existencial, política — mas não dessa política de torcida organizada e lacração. Era política da vida real, do sujeito que olha o absurdo e diz: “Não aceito”.

A rebeldia do rock era profunda porque vinha carregada de sentido. Não era só reclamar por reclamar: era denunciar, propor, incomodar (Marcelo Nova que o diga). Era o libertário — não o partidário. O rock era vanguarda porque não precisava de uniforme: bastava atitude, inteligência, coragem de pensar diferente e fazer do seu jeito. Não era preciso tatuar o corpo inteiro, nem se entupir de droga para provar que era “fora do padrão”. O verdadeiro “rocker” era o que ousava desafiar o padrão, não o que fazia pose de artista enquanto seguia o script da moda.

Mas aí, o tempo passou. O rock, que era visceral e perigoso, resolveu dar uma passadinha no salão de beleza lá pelos anos 80/90. Nos anos 2000, a coisa degringolou de vez: o rock começou a frequentar estética vegana, trilha “grungemo” existencial para adolescente com crise de identidade. As olheiras de quem varava a noite pensando o sentido da vida foram trocadas pelas olheiras de quem chorou, seja porque está depressivo com a realidade nua e crua da vida ou ansioso por que a vida é maior que o quarto da casa dos pais.

Hoje, qualquer um acha que é rebelde porque tem tatuagem, mas qualquer zé mané tem tatuagem e a verdadeira rebeldia foi, é e sempre será não seguir essa e outras modinhas que as vezes até parecem sérias, mas é tudo tudo armação…

No Dia Mundial do Rock, vale lembrar: rebeldia não é produto de prateleira. Não se compra em loja de camiseta, não se tatua na pele, não se aprende em tutorial da internet. Rebeldia de verdade é aquela que faz pensar, que incomoda, que transforma. O resto é só barulho — e, convenhamos, barulho por barulho, qualquer liquidificador faz.

No final das contas, o rock nunca foi sobre quebrar guitarras — foi sobre quebrar as grades do pensamento pronto. E, para quem acha que rebeldia é só pose para propaganda e ter plateia, fica o recado de Mr. Wilde: “A arte nunca deve tentar ser popular. O público é que deve tentar ser artístico.”

No fundo, o verdadeiro barulho que o rock faz é dentro da cabeça de quem ousa pensar diferente. O resto é só eco – dos cantos de passarinhos presos em suas gaiolinhas.

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