11/04/2023 às 21h43min - Atualizada em 12/04/2023 às 00h01min

Superproteção também é uma violência contra as crianças

Pais que impedem a expressão natural das crianças causam insegurança, aumenta o estresse e impede uma conexão mais profunda com os filhos, diz neurociência

SALA DA NOTÍCIA Karina Sant'Ana
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Mariana Moura, o marido e a filha Luísa - arquivo pessoal

A educação positiva é uma maneira de educar confiando em si mesmo, e na pessoa que recebe a instrução. Com base em respeito, confiança e honestidade na relação com o indivíduo. Ela visa desenvolver as habilidades necessárias para o ser humano ter a capacidade de interagir com autoconfiança e de forma saudável. A teoria foi desenvolvida pelos autores Alfred Adler e Rudolf Dreikurs e promovida ao público geral pelos livros da Dra. Jane Nelsen. 

Essa maneira diferente de educar tem sido muito popular entre pessoas estudiosas do assunto aqui no Brasil, mas já é muito conhecida no exterior. Exemplo disso são: Jeff Bezos (fundador da Amazon), Larry Page e Sergey Brin (os fundadores do Google), Príncipe Harry, e, também, o falecido e consagrado jornalista Gabriel García Márquez. personalidades da cultura pop que foram educadas pelo método Montessori. Talvez, por isso, este conceito esteja ganhando cada vez mais espaço. Porque se trata de um modo singular de enxergar a criança por seus cuidadores. Ao contrário da maneira de educar os filhos no passado, com base em punição e recompensa, o que transmitia aos pais uma imagem de repressores da individualidade das crianças. A disciplina positiva foca na observação atenta do desenvolvimento da criança, para que os pais, aos poucos, estabeleçam os limites e corrijam o comportamento dos pequenos, conforme à necessidade. Dessa forma, eles assumem o papel de orientadores no processo de amadurecimento dos filhos e, por consequência, constroem um relacionamento mais amigável. 

No Brasil a forma de educar os filhos ainda é um tabu, porque não existe uma regra determinada, e a educação que as crianças recebem no seio familiar depende muito da história e traumas vividos por seus pais. Por isso, é comum a ocorrência de maus-tratos em crianças e jovens. Em 2021 um estudo publicado pela revista científica Psychological Medicine, com 187 participantes de 7 a 17 anos, avaliou o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), responsável pela regulação do estresse no cérebro humano. O estudo constatou que quanto mais tempo o sujeito é submetido a maus-tratos, sejam eles graves ou leves, maiores são os danos cerebrais desenvolvidos, esses danos provocados na primeira infância (0 a 7 anos) correspondem a 35% dos transtornos mentais diagnosticados na idade adulta. Revelou o estudo promovido pelo Centro de Pesquisa Biomédica em Rede de Saúde Mental (CIBERSAM). 

Uma forma mais sutil de maus-tratos que é pouco falada, é a superproteção que alguns pais oferecem aos seus filhos para poupa-los de frustrações. Segundo a neuro psicoeducadora Ana Paula Soero, a superproteção dos pais atrapalha o processo de desenvolvimento motor e cognitivo dos filhos. “Eu considero o excesso de proteção na educação dos filhos quando os pais não permitem que a criança faça as tarefas básicas. Isso é percebido no cotidiano, pois há situações de crianças que não podem nem colocar a comida no prato, ou crianças que demoram a desenvolver a habilidade de comer sozinhas porque os pais impedem”. Revela Soero que, também, trabalha na rede de educação infantil e identifica que a superproteção dos pais se deve pela falta de paciência em deixar a criança ‘se virar’ sozinha. “Vai fazer sujeira muitas vezes, vai. Vai ter dificuldades, vai cair, pode machucar às vezes, mas faz parte do desenvolvimento da criança.” Explica. 

O que está por trás do impulso de oferecer superproteção?

A impaciência dos pais, a correria do dia a dia e, a falta de tempo para se dedicar aos filhos provoca um comportamento permissivo, movido pela culpa. Quem fala sobre isso a psicóloga Carolina Sasso: “Muitas vezes, a permissividade é causada na educação pelo sentimento de culpa dos pais, é isso que gera a superproteção. A educação positiva, por outro lado, traz o porquê de orientar: porquê dizer? Porquê fazer algumas coisas? Isso tem a ver em fazer não por culpa, mas fazer por que é importante.” Pontua Sasso. 

Mariana estudou muito sobre o assunto e a existência de métodos de ensino infantil que priorizam a independência e autonomia da criança. Ao escolher a educação positiva como forma de educar Luísa, de três anos, ela compreendeu que essa maneira de educar respeita o indivíduo não apenas em sua capacidade de compreensão, mas respeita seu sistema emocional: “A educação positiva nada mais é do que você educar com regras, dando limites para as crianças, mas entendendo que elas são crianças. Perceba que elas não têm o cérebro desenvolvido e que elas não têm a maturidade cerebral pra lidar com algumas questões. Meu marido e eu vemos a Luísa como indivíduo e ser humano que ela é, dentro das limitações que ela tem. Afirma Mariana Moura, jornalista e empreendedora. 

Como a educação positiva pode diminuir o estresse nas crianças?

Assim como foi mencionado no início, uma relação de respeito, confiança e honestidade é o que sugere a educação positiva para aliviar o estresse nas crianças. Deixá-las se expressarem com naturalidade, no seu próprio ritmo de aprendizado é o que propõe Ana Paula Soero “Ao desenvolver nas crianças a autonomia e a independência na realização das atividades é necessário inseri-las nas tarefas. Desde a atividade mais simples, até as atividades cotidianas de casa mesmo, é inseri-la. É fazer com que ela participe e que ela se sinta capaz. Seja dobrar um guardanapo, dobrar uma roupinha, colocar a própria comida no pratinho, se alimentar sozinha… Por mais que pareçam simples, são essas atividades que vão favorecer esse desenvolvimento de uma maneira efetiva.” Soero também explica aos pais de filhos com alguma deficiência física ou cognitiva, que a maneira de trata-los envolve o mesmo senso de respeito e observação atenta ao progresso natural de acordo com as limitações que eles possuem. “A regra é a mesma. Sempre permitir que eles executem tarefas segundo o estimulo natural. Quanto maior for o incentivo, mais autonomia. Maior é a independência dessa criança, e maior vai ser o desempenho dela, quando adolescente, quando adulto.” Conclui Ana Paula Soero, neuro psicoeducadora.


 
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