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17/04/2023 às 09h51min - Atualizada em 19/04/2023 às 00h03min

Exploração do trabalho e violações: a rotina das mulheres na produção de frutas para exportação

Associação de exportadores enaltece “carinho” das mulheres com as frutas, mas irregularidades e funções exaustivas dão o tom das vagas de trabalho femininas

SALA DA NOTÍCIA O Joio e O Trigo

Exploração do trabalho e violações: a rotina das mulheres na produção de frutas para exportação
Associação de exportadores enaltece “carinho” das mulheres com as frutas, mas irregularidades e funções exaustivas dão o tom das vagas de trabalho femininas

Doloroza foi uma dessas mulheres. Vivia em Salgueiro, cidade com pouco mais de 60 mil habitantes no sertão pernambucano, a duzentos quilômetros de Petrolina. Sobrevivia lavando roupas para fora, costurando e cozinhando. Foi mãe solo dos cinco filhos. Aos 45 anos, sentiu que algo precisava mudar. “Quando passei em Petrolina, vi tudo verdão. Pensei: oxe, eu vou voltar pra cá, vou voltar pra esse lugar”, lembra. “E foi quando vim e fiquei. Só voltei pra Salgueiro pra vender minha casa.”

 

Doloroza - Foto: Raquel Torres

A organização do trabalho na fruticultura se divide entre assalariados temporários contratados por safra e aqueles que se tornam permanentes. As safristas ficam empregadas entre três e cinco meses por ano. No tempo restante, perdem a renda e passam a viver com a incerteza da convocação para a próxima safra.

 

Filha de Doloroza, Elaine Maria dos Santos Oliveira começou a trabalhar aos 14 anos, em uma época em que era comum ter adolescentes na labuta nas roças. Hoje sonha em trabalhar com beleza e estética. Foto: Raquel Torres

É preciso levar todas as refeições, desde o café da manhã até o lanche, inclusive o cafezinho para ajudar a despertar. As fazendas oferecem, na melhor das hipóteses, cesta básica. A pauta da alimentação se repete, ano a ano, sem grandes avanços, nas negociações anuais entre sindicato e categoria.

 

Nora de Doloroza, Diana de Souza Lopes fez um acordo para ser demitida após nove anos de trabalho na mesma firma. Saiu para receber a rescisão e poder cuidar da própria saúde. Seu maior sonho é ver os três filhos formados. Foto: Raquel Torres

Como a grande maioria, a necessidade de trabalhar fora apareceu após a maternidade. Um caminho para proporcionar uma vida melhor para os filhos. Mas o preço pago foi alto. “Eu saía pra Cacimba Funda pra trabalhar e deixava eles com minha mãe. Dormia na sogra porque a distância era muita. Saía na segunda de madrugada e chegava no sábado ao meio-dia, às vezes três horas da tarde. Minha menina tinha quatro anos”, lembra Joana. “Só via no final de semana. E era uma coisa rápida. Vocês sabem, né? O sábado passa rápido, o domingo mais ligeiro ainda. Passava um dia e meio com eles.”

Em sua pesquisa, rodou por vários perímetros irrigados entre Juazeiro e Petrolina. Queria entender como era a realidade das pessoas que vivem dessa produção, para além dos dados macroeconômicos.

 

“Como mãe, eu penso logo nos meus filhos. Vamos para onde? Eu vou oferecer o quê?”, questiona Antonia Gilvana Mota Sousa, uma das lideranças que luta contra a retomada do perímetro irrigado Santa Cruz do Apodi, conhecido como Projeto da Morte. Foto: Raquel Torres

Secretária do Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais de Apodi, Antonia Gilvana Mota Sousa, de 42 anos, era uma das lideranças presentes em um seminário que aconteceu em setembro de 2022. Centenas de agricultores se reuniram ao longo de três dias para discutir o impacto da fruticultura de exportação. “Como mãe, eu penso logo nos meus filhos. Vamos para onde? Eu vou oferecer o quê? Aqui eu tenho o meu quintal. Eu tenho a minha produção, tem o bode, tem a galinha, eu tenho o ovo, eu tenho a fruta para fazer o suco. Saindo daqui vou dar o quê pra eles comerem?”


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